sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Natal...


Eu morava numa cidade grande. A poucos dias do Natal, as lojas já começavam a ficar cheias e multidões esperavam impacientemente pelos autocarros e eléctricos no fim da tarde.
Quase todas as pessoas carregavam muito sacos e o cansaço era tanto, que eu comecei a perguntar-me se os amigos e parentes mereciam mesmo aqueles presentes e tanto sacrifício. Esse não era bem o espírito de Natal que eu desejava.
Finalmente fui empurrada para dentro de um eléctrico superlotado e a idéia de ficar ali como sardinha em lata até chegar em casa foi era insuportável. O que eu não daria por um lugar sentada!
À medida que algumas pessoas foram descendo, consegui respirar melhor e comecei a notar os outros passageiros. Com o canto do olho, vi um menino pequeno, de pele escura - não poderia ter mais de seis anos - puxando a manga de uma mulher e perguntando: "Quer sentar-se?" Ele levou-a até ao lugar vago mais próximo e partiu em busca de outra pessoa cansada. Assim que um cobiçado lugar surgia, ele rapidamente se enfiava no meio daquela multidão para procurar mais uma mulher carregada de pacotes e levava-a até o assento.
Finalmente, quando senti um puxão na minha própria manga, já estava completamente fascinada pelo menino. Ele pegou-me pela mão e com um sorriso do qual jamais vou me esquecer disse: "Venha comigo." Mal tive tempo de agradecer, pois ele já partia em busca de mais uma necessitada.
Os passageiros do eléctrico, que em geral viajavam a olhar para a frente e a evitar os olhares dos vizinhos, começaram a trocar sorrisos. Uma mulher comentou comigo o cansaço que sentia, e três pessoas se abaixaram ao mesmo tempo para apanhar um pacote que caíra no chão. Em pouco tempo, as pessoas conversavam. Aquele menino havia realmente mudado alguma coisa - todos nós sentíamo-nos envolvidos num subtil sentimento de aconchego e o resto do percurso foi puro prazer.
Não dei conta de o menino descer. Quando reparei, ele já lá não estava. Quando cheguei ao meu destino, saí do eléctrico e desejei sinceramente ao condutor "Feliz Natal".
Pela primeira vez percebi como as casas da minha rua estavam lindamente iluminadas e pensei em reunir os vizinhos para um chá antes do fim do ano. Eu sentia-me de bem com o mundo, feliz com os presentes que comprara e com a alegria que eles dariam.
E de repente, o Natal deixou de ser uma festa de consumo para adquirir seu verdadeiro sentido. Mais uma vez era um menino que, com seu gesto de amor, anunciava nossa verdadeira vocação.

Afinal Natal é isso mesmo…a coragem através de gestos, ás vezes tão singelos e pequenos, conseguirmos concretizar o grande mandato: “ Amai-vos uns aos outros”…
Já agora era bom que cada um de nós fizesse um compromisso interior…: “ Neste Natal vou pensar em algum gesto que possa ser para os outros um pedaço de amor”…e quando sou capaz de transmitir amor é sinal que Ele já nasceu em mim…
Sejamos autênticos deixando que Jesus nasça em nós e queiramos VÊ-LO presente nos outros…
Feliz Natal…

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